Conto Impromptu — MMXVII

Um homem cansado senta-se em frente a uma escrivaninha antiga. Ele parece perdido em pensamentos, e as sombras da sala deixam ainda mais evidentes as marcas profundas em seu rosto, de quem já viu de tudo na vida.

Alguém bate na porta.

— Entre, — diz o homem, sem levantar a cabeça.

A porta se abre e entra um jovem forte, mas com aparência insegura, vestindo um fraque. Ele é claramente novo aqui.

— O senhor queria me ver?

O homem na poltrona não levanta a cabeça para encarar o rapaz. Sua voz é tão cansada quanto sua aparência:

— Venha cá, rapaz.

O jovem do fraque caminha até a mesa, tentando parecer seguro, mas deixando transparecer o nervosismo no tremor de seus dedos. Só quando ele se aproxima da mesa, o homem de rosto marcado levanta a cabeça para encará-lo.

Os dois ficam alguns instantes em silêncio. O jovem coloca as mãos atrás das costas, nervoso. Seu chefe, com uma expressão de desgosto que não parece direcionada exatamente ao rapaz, suspira.

Ele então abre uma das gavetas da velha mesa e tira uma série de objetos, que coloca à frente do rapaz: uma arma, um coldre, uma carteira de identidade, e uma grande pasta com papéis. Os olhos do rapaz se movem diretamente para os documentos, claramente a única parte que o surpreende dos objetos entregues.

A pasta em si era nova, mas as folhas que vazam pela superlotação são em sua maioria amareladas e manchadas de café e sabe-se lá mais o quê. Na capa da pasta estava impressa a palavra "RESOLUÇÕES", mas alguém já a havia riscado com uma caneta hidrográfica preta de ponta grossa e rabiscado "DIRETRIZES" logo abaixo. O jovem aperta os olhos e depois encara o homem, procurando alguma explicação.

— Agente MMXVII, estas são suas diretrizes de missão. Você deverá estudá-las e cumprir cada uma das tarefas aqui listadas com eficiência máxima.

O velho falava de maneira quase automática, com o som profissional de quem já fez aquilo muitas vezes antes, mas com uma vaga ponta de desilusão de quem raramente viu aquela instrução surtir efeito.

— Sim, senhor! — Exclama o jovem, aprumando-se. — Quando devo começar?

— Imediatamente, MMXVII.

O jovem cuidadosamente tira o paletó e veste o coldre. Ele confere a arma e, encontrando-a em bom estado e carregada e a guarda. Depois veste o paletó, pega a identidade que o marcava como agente e a coloca em um bolso interno.

Terminado o processo, o jovem tem um sorrido largo no rosto, tanto o sorriso de quem tem um novo cargo, quanto o daquele que é confiante demais e carrega uma arma. Seu chefe não parece impressionado.

— MMXVII, olhe para mim.

A voz do velho desmonta o sorriso do jovem, que novamente esconde as mãos atrás das costas.

— Sim, senhor?

O homem da mesa vira a pasta ao contrário e a abre pelo final, revelando um conjunto de páginas grampeadas, claramente independentes do conteúdo principal dos documentos. Há a foto de um homem com um sorriso largo, quase maníaco, e uma série de informações diversas sobre ele e suas atividades.

— Este é um trabalho duro. Este é um trabalho que pode trazer o pior das pessoas para fora.

O jovem ainda não havia entendido bem a mensagem, mas algo naquilo o deixava nervoso.

— Junto com as suas diretrizes de missão, tomei a liberdade de deixar um dossiê de seu antecessor. Do agente MMXVI.

MMXVII engole em seco. Ele havia ouvido as histórias. Se havia algo que qualquer pessoa na agência queria evitar, era ser como MMXVI. A boca do chefe se estica em algo que fica entre um sorriso e uma careta de desgosto profundo.

— Ele não suportou a pressão. Acredito que foi logo no começo de suas tarefas, com a missão do "Homem do Espaço". Ele não suportou a pressão, depois disso. Todas suas decisões em campo foram comprometidas.

Os dois se encaram em silêncio novamente, mas MMXVII começa a suar frio, tendo claramente perdido a convicção que o novo cargo havia lhe dado momentos antes. O chefe suspira novamente.

— Quero que estude tudo que MMXVI fez para que evite seus erros. Algumas das missões que você tem pela frente não serão fáceis, mas não deixe que elas quebrem seu espírito.

Ele fecha a pasta e a estende para MMXVII, que a segura com os dois braços como a um bebê.

— Sim… s-senhor. — responde, finalmente, com um leve tremor na voz.

— Todos torcemos pelo seu sucesso. Esperamos que aprenda com os erros de seu antecessor e nos dê orgulho. — O chefe finalmente consegue um sorriso, ou o mais perto disso que seu rosto consegue produzir.

O jovem respira fundo e consegue retribuir com um sorriso pequeno, mas genuíno.

— Sim, senhor!

— Dispensado, agente.

MMXVII acena com a cabeça e começa a se dirigir em direção à porta.

— Agente!

Ele se vira e encontra o chefe de pé, atrás da mesa, as duas mãos apoiadas sobre a madeira.

— Senhor?

— Seja lá o que acontecer, não deixe que atirem em um gorila dessa vez.

MMXVII franze a testa, se perguntando se isso era um novo código da agência, mas acena positivamente.

— Sim, senhor!